22 DE MARÇO – DIA MUNDIAL DA ÁGUA
MORAIS, M. R. D.
1 – INTRODUÇÃO
Individualmente considerado, pode-se afirmar que a água doce é o mais importante recurso para os seres humanos. Em escala mundial, o que freia a expansão da agricultura e o povoamento de amplas regiões é a insuficiência de água. Em escala local, os recursos hídricos delimitam a localização de certas indústrias, como a geração de energia; em períodos remotos, o estabelecimento de povoações estava estreitamente relacionado com a localização de rios e fontes. Como bom exemplo cabal podem ser citadas as povoações oásis.
Dentro de uma visão prismática humana, as limitações impostas pela água são abastecimentos insuficientes (desertos, estiagem) ou demasiado (pântanos, inundações). De resto, excessos ou deficiências podem ocorrer em qualquer lugar, por motivos sazonais ou ocasionais.
Em parte, foi por causa da absoluta importância da água potável que a alteração na ocorrência no tempo e no espaço provocou as primeiras tentativas do homem para modificar o ambiente natural. Na verdade, o desenvolvimento da agricultura e da sociedade organizada sempre esteve vinculado ao controle da água, especialmente para irrigação. As civilizações do antigo Egito e da China, assim como da Índia e da Mesopotâmia, chamam-se “civilização hidráulica”. Sua ascensão e subsequente queda estão intimamente relacionadas ao uso e abuso da água (Drew, 2005).
2 – IMPORTÂNCIA DA ÁGUA NO BRASIL E NO MUNDO
A água é um recurso natural essencial, tanto na composição de seres vivos, quanto como meio vital de inúmeras espécies de fauna e flora, como elemento representativo de valores socioculturais e como fator de produção de bens de consumo e produtos agrícolas.
A água é o constituinte inorgânico, e mais abundante na matéria viva; no homem adulto representa 60% do seu peso, nas plantas atinge 90% e em certos animais aquáticos esse percentual atinge 98% (Philippi Jr., et al, 2004). Encontra-se disponível sob várias formas, sendo uma das substâncias mais comuns existentes na natureza, cobrindo cerca de 70% da superfície terrestre (vide o percentual de distribuição de água na tabela 1). Embora se apresente no ambiente em três estados distintos: sólido, líquido e gasoso, ela é encontrada principalmente respectivamente no segundo estado, constituindo um recurso natural renovável por meio hidrológico (Braga, et al. – 2005).
Tabela 1 – Percentual de distribuição de água na Terra
Localização Volume (em milhares de km³) Porcentagem da água total (%)
Lagos de água doce 125 0,009
Rios 1,25 -
Umidade do solo 65 -
Água subterrânea 8.250 0,607
Lagos salinos e mares interiores 105 0,008
Atmosfera 13 0,001
Calotas de gelo polares, geleiras e neve 29.200 2,15
Oceanos e mares 1.320.000 97,22
Total 1.360.000 100,0
Fonte: Philippi Jr., et al.2004
A água também tem um desempenho valioso como fator de consumo nas atividades humanas. No Brasil são consumidos, em média, 246m³/habitante/ano, considerando todos os usos da água, inclusive para a agricultura e indústria. Como fator de produção de bens, a larga utilização na indústria e notadamente na agricultura mostra a importância desse recurso natural.
Em todo o mundo, a agricultura consome cerca de 69% da água captada, sendo 23% utilizados na indústria e os 8% restantes destinados ao consumo doméstico. Em termos globais, as fontes de água são abundantes; no entanto, quase sempre são mal distribuídas na superfície da Terra. Mesmo no Brasil, que possui a maior disponibilidade hídrica do planeta, com cerca de 13,8% do deflúvio médio mundial (5744 km³/ano), essa situação não é diferente (vide distribuição irregular de água na tabela 2).
Tabela 2: Distribuição irregular de água
Regiões Brasileiras Distribuição de água (%) Percentagem de ocupação humana (%)
Norte 68,5 7
Sudeste 6 43
Nordeste 3 29
Fonte: Philippi Jr., et al. 2004.
Os outros 21% da população encontra-se distribuída nas regiões Sul e Centro-Oeste recebendo irregularmente 22,5% das águas brasileiras.
2.1 – USOS DA ÁGUA E REQUISITOS DE QUALIDADE
O recurso natural mais intensamente utilizado pelos seres humanos é a água. Esse bem é fundamental para a manutenção e existência da vida, sendo que para tanto necessita estar presente no ambiente em quantidade e qualidade apropriadas.
A espécie humana tem feito uso da água não somente para saciar as suas necessidades metabólicas, como também para outros fins. Esses fins geram uma demanda por água que poderá em um futuro próximo, superar a oferta hoje existente, seja em termos qualitativos quanto em termos quantitativo ocasionados pela poluição crescente que afeta esses recursos, podendo gerar graves problemas de desequilíbrio ecológico.
2.1.1 – Abastecimento humano
A água para fins domésticos deve apresentar características sanitárias e toxicológicas adequadas, tais como estar livre de substâncias tóxicas e organismos patogênicos, ou seja, ser potável, evitando dessa forma danos à saúde e ao bem-estar humano. A água contaminada é aquele que apresenta organismos patogênicos, ou seja, que transmitem doenças ao homem, tais como vírus, bactérias e protozoários, que podem causar doenças como a cólera, hepatite, disenteria, febre tifóide entre outras. Essas doenças são facilmente evitáveis através da implementação de um saneamento básico adequado. A Organização Mundial de Saúde estima que das 13.700 pessoas que morrem por dia por doenças transmitidas pela água, mais da metade delas são crianças com menos de cinco anos de idade (Braga, 2005).
2.1.2 – Abastecimento industrial
2.1.3 – Irrigação
Esse é o uso mais intenso da água representando 70% do consumo de água doce no mundo. A qualidade da água para esse uso depende do tipo de cultura que será cultivado. Por exemplo, alimentos que serão ingeridos crus, necessitam que a água seja isenta de organismos patogênico e de substâncias tóxicas. Pode carrear para os corpos de água superficiais como rios, lagos, riachos e também para a água subterrânea as substâncias empregadas para o aumento da produtividade da agricultura. Entre tais substâncias, destacam-se os defensivos agrícolas e os fertilizantes sintéticos (Braga, 2005).
2.1.4 – Geração de energia elétrica
Para fins energéticos a água é utilizada por meio de geração de vapor de água nas usinas termoelétricas ou pelo aproveitamento de energia potencial ou cinética da água nas usinas hidrelétricas. Em ambos os casos a qualidade da água não tem muita influencia, a não ser pelo controle de substâncias que possam afetar a durabilidade e manutenção dos equipamentos utilizados.
O uso de recursos hídricos para fins energéticos pode desencadear uma série de impactos ambientais no meio aquático. A ação de despejo de calor nos corpos hídricos e a transformação de rios, isto é, ambiente de altas velocidades e turbulência para lago, ambiente de baixa velocidade e turbulência pode afetar esse ecossistema de diversas maneiras.
2.1.5 – Navegação
Devido o despejo de modo deliberado ou acidental de substâncias poluidoras pelas embarcações, a navegação pode perturbar o meio aquático e, pelo mesmo motivo, os portos também são apontados como um potencial poluidor das águas.
2.1.6 – Assimilação e transporte de poluentes
Cursos d’água têm sido muito utilizados com a finalidade de assimilar e transportar os despejos neles lançados. Se o fluxo de água for grande e a concentração poluente for baixa, essa diluição pode não causar impactos sobre outros usos da água. A diluição não deve ser recomendada em substituição ao tratamento dos despejos, devendo ser utilizada para carga residual das estações de tratamento. O comportamento dos corpos de água como receptores de despejos varia em função de suas características físicas, químicas e biológicas e da natureza das substâncias lançadas (Braga, 2005).
2.1.7 – Preservação da fauna e flora
2.1.8 – Aqüicultura
2.1.9 – Recreação
3 – SITUANDO SILVA JARDIM NESSE CONTEXTO
Existe uma forte relação entre água e mata, visto que, as matas sombreiam as nascentes, evitando a incisão direta dos raios solares sobre elas, dificultando assim, a evaporação mais acelerada da mesma. Outro ponto, a presença de matas nas duas margens do rio, as conhecidas matas ciliares, tal como os cílios dos olhos, têm a função de proteger esse rio contra a ação antrópica humana (entrada de resíduos lançadas nas lavouras, lixo, entre outras.) e também das ações naturais, como as enchentes, erosão das margens etc.
O município de Silva Jardim – RJ, mantêm aproximadamente 43% da área total com cobertura vegetal remanescentes de Mata Atlântica e 64% deste total é parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro (Rambaldi et al., 2002).
Embora traga em seu histórico, fatos importantes como ter feito parte da Capitania de São Vicente, ter como patrono Antônio da Silva Jardim, um republicano muito ativo na época (Machado, 1993), outro fato vem marcar ainda mais o município: em 1964 foi criado algo inédito: a 1ª Reserva Biológica do Brasil - a Reserva Biológica de Poço das Antas – com uma área de 5000 hectares, objetivando assegurar a sobrevivência do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) e da preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus); conservar a biodiversidade e os ambientes para o mico-leão; promover a recuperação de áreas degradas, fomentar as atividades de pesquisa científica e monitoramento ambiental (MMA/IBAMA, 2005).
Apresenta como atividades aquáticas importantes o abastecimento urbano, a irrigação, a captação por pequenas indústrias, a mineração, a navegação por pequenas embarcações, a pesca, a recreação e a manutenção da biodiversidade. Como ameaças conta com o barramento, canalização, invasão das margens, poluição agrícola, mineração, esgotos e espécies exóticas introduzidas (tucunaré, bagre afriano, tilápias e carpas). Essas espécies, têm desequilibrado consideravelmente o ambiente aquático onde residem 89 espécies de peixes nativos (Bidegain & Pereira, 2006).
3.1 – São João: um rio genuinamente fluminense
Silva Jardim tem como rio principal o São João, que dá nome à bacia onde o mesmo encontra-se totalmente inserido: a Bacia Hidrográfica do Rio São João, com incontáveis nascentes, rios e a Lagoa de Juturnaíba, hoje Represa de Juturnaíba. (Bidegain e Volcker, 2003).
O rio São João tem suas nascentes na Serra do Sambê, no município de Cachoeira de Macacú, a uma altitude de cerca de 800m e percorre aproximadamente 120km até desaguar no Oceano Atlântico, junto às cidades de Barra de São João e Santo Antônio. Por ter sua nascente e sua foz no estado do Rio de Janeiro, ele é o único rio considerado genuinamente fluminense.
A partir de 1974, a bacia foi alvo do Programa Especial para o Norte Fluminense, do Ministério do Interior, através do qual foram realizadas inúmeras obras hidráulicas pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS. O rio São João foi objeto de grandes obras de retificação. Na planície aluvial foram construídas valas de drenagem e, grandes canais, que secaram as planícies inundadas. Dentre as obras, a de maior destaque foi a construção da represa de Juturnaíba, no rio São João a jusante da confluência do rio Bacaxá. A formação do reservatório se deu em 1982 e 1984 e cobriu a antiga lagoa de Juturnaíba (significa lago medonho, em tupi), criando um ecossistema que, embora aquático, diferente do original. A área alagada passou de 8km², superfície da antiga lagoa, para 30,6km². Na represa deságuam os rios São João, Bacaxá e Capivari (Bidegain & Pereira, 2006).
A represa foi construída para possibilitar o abastecimento público e a irrigação nas áreas planas que foram drenadas. No entanto, o segundo objetivo nunca foi alcançado. Durante a formação da represa e nos seus primeiros anos, houve um aumento considerável de plantas aquáticas, que chegaram a formar ilhas flutuantes, e um decréscimo considerável de oxigênio. Com a extinção do DNOS, a barragem e o reservatório ficaram abandonados. Embora seja uma obra federal, desconhece-se qual órgão federal é o seu proprietário.
As obras do DNOS, associadas a extração de areia acarretam grandes danos aos ecossistemas. O escoamento foi acelerado, os rios ganharam competência e houve reentalhamento da calha. A extração de areia a montante da represa ocorre há muito tempo, concentrando-se nos leitos dos rios São João, Pirineus e Bananeiras. Os extratores da areia subiram os rios em busca de depósitos de areia mais grossa, lavrando grande parte do leito. Os efeitos danosos mais evidentes da conjugação das obras do DNOS com a retirada da areia é o afundamento do leito do rio principal e de alguns afluentes. Os córregos tributários também afundaram para se ajustar, reentalhando a calha. É possível observar rios com pouca vazão e barrancas muito elevadas. Os finos decorrentes da atividade mineral estão assoreando rapidamente a represa. Desde 2001 o assunto é discutido e atualmente todas as extrações de areia no rio São João estão paralisadas. Para completar, regras para a operação das comportas são inexistentes. Na foz do rio São João encontram-se um grande manguezal (Bidegain & Pereira, 2006).
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a existência de fatos reais, antigos e muitos deles trágicos, devem ser questionados a importância e o destino que vem sendo dado aos recursos hídricos disponíveis em cada cidade, estado ou país. Sem o uso consciente desses recursos destinos vividos por civilizações antigas como as do Oriente tendem fatalmente a se repetir trazendo dor e sofrimento a muitos que já sofrem pelo descaso das sociedades hegemônicas.
Silva Jardim é um município dotado de uma presença extremamente marcante de nascentes, riachos, rios e cachoeiras e, ainda mantém, a Mata Atlântica, espécie nativa e remanescente em quase cinquenta por cento de seu território. È sabido da íntima relação das águas com as florestas. No entanto, ter um elevado índice arbóreo em uma localidade não significa que ela esteja protegendo os mananciais hídricos. Deve ser garantido que esses mananciais, tão fundamentais para saciar as necessidades hídricas da espécie humana, estejam protegidos da ação antrópica e, que dessa forma, tenham suas nascentes protegidas por matas ciliares em todo o seu percurso.
4 – REFERÊNCIAS BIBLILOGRÁFICAS:
1 – Arlindo Philippi Jr.; Marcelo de Andrade Romero; Gilda Collet Bruna – editores - Curso de Gestão Ambiental – Barueri, SP: MAnole, 2004.
2 – Drew, D. 2005. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente - tradução de João Alves dos Santos: revisão de Suely Bastos; coordenação editorial de Antonio Christofoletti. – 6ª edição – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
3 – Bidegain, P.; Pereira, L. F. M. 2006. Plano da Bacia Hidrográfica da Região dos Lagos e do rio São João / Comitê das Bacias Hidrográficas das Lagoas de Araruama e Saquarema e dos rios São João, Uma e Ostras. Rio de Janeiro.
4 – Bidegain, P.; Volcker, C. M. 2003. Bacia Hidrográfica dos rios São João e das Ostras: Águas, terras e conservação ambiental. Consórcio Intermunicipal para a Gestão das Bacias Hidrográficas da Região dos Lagos, Rio São João e Zona Costeira. Rio de Janeiro.
5 – Braga, B.; Hespanhol I.; Conejo, J. G. L.; Mierzwa, J. C.; Barros, M. T. L. de; Spencer, M.; Porto, M.; Nucci, N.; Juliano, N.; Eiger, S. 2005. Introdução a Engenharia Ambiental – 2ª Edição – São Paulo – Pearson Prentice Hall.
6 – Machado, A. da S. 1993. Monografia de Capivarí. Prefeitura Municipal de Silva Jardim. Rio de Janeiro.
7 – Ministério do Meio Ambiente (MMA) / Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 2005. Revisão do Plano de Manejo da Reserva Biológica de Poço das Antas. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
8 – Rambaldi, D. M., Magnani, A., Ilha, A., Lardosa, E., Figueiredo, P., Oliveira, R. F. 2002. A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Caderno de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, nº 22.